A coesão e a coerência são mecanismos linguísticos gerais de organização do texto. Apesar de ambos estarem relacionados à clareza e objetividade textual, são mecanismos linguísticos que incidem sobre diferentes áreas da língua. Portanto não são a mesma coisa, a coerência está relacionada à organização dos sentidos do texto (área da significação) e a coesão à organização gramatical (área da gramática). Dessa maneira, um texto pode ser incoerente mas coeso; assim como pode ser coerente mas ter falta de coesão. No entanto, em qualquer caso, a leitura e entendimento do texto ficarão comprometidos. Nesse artigo irei explicar tanto a coesão quanto a coerência e também descreverei alguns princípios para a produção de um texto claro e objetivo.
Coerência textual são as articulações entre os sentidos construídos nas orações, frases e parágrafos que garantem a construção do sentido principal do texto. Diferentemente da fala, a escrita é um registro que permite que o leitor retorne às partes já lidas e formule e reformule o sentido do texto, ao longo da leitura. Para que um texto apresente uma conexão entre os sentidos e transmita um sentido principal são necessários alguns princípios.O primeiro princípio de coerência textual é o de não-repetição de ideias. Por exemplo, um aluno afirma “ Professor, gostaria de prorrogar para mais tarde o prazo de entrega do trabalho.” A expressão grifada é repetitiva, pois, a palavra “prorrogar” já agrega o sentido de que é para mais tarde. Um segundo princípio até mais conhecido ao se falar de coerência, é o de “não-contradição” de ideias. Leia a frase: “ Eles são bons pais, mas batem nos filhos”, a expressão “bons pais” faz com que pensemos em diversos significados construídos culturalmente que, em geral, não inclui “bater no filhos” , por isso, a segunda oração contradiz a primeira. O terceiro princípio a ser seguido é a utilização apenas de informações relevantes para o sentido central do tema, por exemplo, não colocar dados de uma pesquisa de um tema diferente do tema do texto.Contudo, não bastam apenas as conexões entre os sentidos para produzir um bom texto, é preciso ter frases e parágrafos bem formados, por isso veremos a coesão textual.
Coesão textual são as articulações gramaticais existentes entre palavras, orações, frases e partes maiores de um texto que garantem a conexão sequencial. Portanto, a coesão envolve a aplicação de diversos mecanismos gramaticais como concordância verbal, concordância nominal, uso adequado de pronomes, uso de conjunções, pontuação adequada e ordenação dos termos (sintaxe). Como são muitos conteúdos, vou me ater ao princípio mais cobrado nas redações escolares, a necessidade de evitar a repetição de palavras e descreverei quais mecanismos linguísticos podem ser usados para isso.
Leia a piada abaixo:
E Cabral descobriu o Brasil. Na madrugada seguinte o grumete foi acordá-lo:
– Dom Cabral, Dom Cabral, Frei Henrique de Coimbra mandou chamar o senhor para assistir à Primeira Missa!
E Cabral respondeu:
– Estou muito cansado. Diga a ele que eu vou na—– das dez. (Ziraldo)
Nesse texto podemos perceber o uso de pronomes pessoais para substituir termos. Esse é o primeiro mecanismo para evitar a repetição. Pelo texto ainda podemos destacar que o pronome oblíquo “o” substitui “Cabral”, que seria o complemento do verbo, enquanto que o pronome “ele” substitui “Frei Henrique de Coimbra” que seria o sujeito. Logo, tiramos a regra de que os pronomes do caso reto sempre substituem o sujeito e os pronomes oblíquos, os complementos verbais. No último período do texto “Diga a ele que vou na—– das dez”, está subentendido o termo missa, que já havia sido citado anteriormente, esse mecanismo é chamado de elipse.
Percebemos por essa primeira análise como a coesão está relacionada diretamente à gramática. Entretanto, uma inadequação gramatical pode afetar o sentido e isso faz com que a coesão e coerência sejam afetadas conjuntamente. A graça da piada está no ambiguidade do termo “primeira missa” que pode ser a primeira missa do dia, como entendeu Cabral, ou a “primeira missa no Brasil”, um evento histórico que não se repete. A ambiguidade nesse caso é usada para criar um efeito de humor. No entanto, a ambiguidade deve ser evitada em gêneros textuais mais formais e pode ocorrer por causa de uma má ordenação dos termos da frase, ou seja, por causa da falta de coesão. Leia a manchete abaixo:
Policiais de Brasília atiram em manifestantes com armas letais
Policiais foram flagrados disparando armas de fogo contra manifestantes. Pelo menos um civil foi baleado com arma letal e passou por cirurgia. Outras pessoas deram entrada no Hospital de Brasília com ferimentos graves. Imagens revelam brutalidade e despreparo.
Se não lêssemos abaixo da manchete, poderíamos achar que as armas letais eram dos manifestantes ou dos policiais, isso porque como os termos “com armas letais” estão no final da frase e, por isso, podem se referir a qualquer pessoa. Lendo a informação abaixo da manchete, sabemos que quem atirou foram os policiais, portanto, poderíamos evitar a ambiguidade escrevendo “Policiais de brasília atiram com armas letais em manifestantes. Em suma, apesar de serem mecanismos linguísticos relacionados a áreas diferentes da linguagem, forma e significação, eles podem estar imbricados. Ou seja, a ordenação errada de termos, a escrita errada de uma palavra, pode afetar o sentido. Portanto, para exprimir melhor o nosso pensamento em forma escrita, é necessário conhecer muito bem todos os mecanismos que ela nos dispõe.